Na minha lista de leituras essenciais sobre o problema e a solução para as alterações climáticas, em primeiro lugar tenho o livro The New Climate War (A Nova Guerra Climática) de Michael Mann, um dos mais respeitados cientistas e activistas do Ambiente nos EUA.
Trata-se de uma leitura actual, urgente e optimista. Podia ser um livro maçudo e aborrecido. Seria igualmente importante, claro. No entanto, Mann procura ilustrar pontos com momentos anedóticos ou situações que testemunhou desde que se juntou ao activismo pelo clima, oferecendo passagens divertidas e inesperadas.
A tese principal passa por compreender o New (Novo) do título. Actualmente, o problema já não são os negacionistas das alterações climáticas: as consequências no clima tornaram-se agora demasiado evidentes para podermos ignorá-las ou mascará-las. O título apela a uma lógica de confronto precisamente porque Mann considera que estamos perante uma guerra psicológica, baseada na estratégia já conhecida de desinformar, distrair e atrasar.
E com a mesma clareza com que descreve esta guerra e os seus intervenientes, Mann oferece estratégias para identificar e combater estas tácticas.
Para isso, importa primeiro perceber quem está do lado de lá: grupos económicos ligados aos combustíveis fósseis, elites neoliberais que vêem na transição energética e num Green New Deal (Novo Pacto Ecológico) uma ameaça ao seu poder, e governos financiados por petrolíferas. Depois, importa identificar a génese destas tácticas: as campanhas de relações públicas que disseminaram ideias tão absurdas como a de que a responsabilidade pelas mortes causadas pelo tabagismo é do indivíduo, consumidor, e não da indústria tabaqueira. Esta forma de inversão de responsabilidade foi aproveitada pelas indústrias que temiam legislação ou movimentos cívicos que regulassem as embalagens (packaging), por exemplo, e brilhantemente utilizada também pela indústria petrolífera que durante décadas promoveu campanhas de negacionismo.
Mas Mann não menospreza o papel que cada um de nós, individualmente, pode ter na redução da pegada carbónica, enfatiza sim e torna claro que esta tónica nas acções individuais nos distrai do papel crítico dos governos e dos grupos económicos em operar mudanças sistémicas como investir de forma maciça em energias renováveis e reduzir emissões à escala industrial.
E a crítica de Mann estende-se a vários intervenientes do diálogo climático: aos ambientalistas puristas que criticam cientistas ou outros activistas por consumirem carne ou fazerem viagens de avião; aos catastrofistas que anunciam o apocalipse climático e cultivam a inacção e o pânico por apresentarem o problema (sem a devida base científica) como insolúvel; aos tecnocratas que apresentam soluções de geoengenharia imprevisíveis, perigosas e intangíveis.
Perante esta explicação do problema, Mann é peremptório: há que ignorar os fatalistas, deixarmo-nos inspirar por activistas como Greta Thunberg, concentrarmo-nos em educar quem está disposto a ouvir, e sobretudo não nos deixarmos enganar e pensar que é demasiado tarde para agir e fazer mudanças sistémicas.
Carla Santos
Bio: Carla Santos é Tradutora de profissão. Já foi professora, e neste momento trabalha como gestora de CRM para uma ONG americana. Vai tentando combater com mais ou menos obstinação a alienação trucidante da vida urbana procurando ligar-se a iniciativas ambientais e comunitárias.